Os freqüentadores da Casa Espírita que não possuem o hábito do estudo, acreditam que os médiuns sejam espíritos privilegiados, portadores de dons milagrosos e de maravilhosos poderes. Nada disso. O médium é um espírito (re)encarnado como outro qualquer. Como o próprio termo explica, ele apenas serve como meio de contato entre o plano espiritual e o plano físico (Livro dos Médiuns, capítulo 14). O médium tem problemas como todos nós: falta de dinheiro, desemprego, doenças, desavenças humanas, defeitos e virtudes. Mas, porquê uns nascem médiuns e outros não? A mediunidade está ligada diretamente ao organismo do individuo e pode ocorrer de duas maneiras: primeiro, por meios evolutivos espirituais, isto é, quando o espírito evoluindo 'conquista' determinada sensibilidade acima do comum - por exemplo, o chamado sexto sentido, uma espécie de percepção natural do invisível - e a segunda forma, um tipo de 'empréstimo' para o espírito delituoso onde, um conjunto de habilidades, diferentes das naturais, ficam latentes a partir da (re)encarnação, a fim de possibilitar-lhe cooperação direta com o plano espiritual, sanando seus débitos passados. Daí, a correta compreensão que o Espiritismo nos fornece de que existem médiuns (indivíduos) de boa ou de má fé, e de que se a mediunidade, em caráter de empréstimo, estiver sendo utilizada para fins pessoais ou comerciais, pode ser suspensa ou até retirada (Evangelho 2º o Espiritismo, capítulo 26, item 7). Logo, a manutenção da mediunidade depende do comportamento moral do médium (Livro dos Médiuns, capítulo 17). Portanto, de acordo com os conceitos espíritas, endeusar um médium, atribuindo-lhe a famosa 'santificação', além de desconhecimento da Doutrina Espírita, é prejudicial ao próprio médium, por alimentar-lhe a vaidade, o egoísmo e o orgulho.
Médiuns eficientes como Chico Xavier ou Ivonne do Amaral Pereira, entre outros, são apenas espíritos nobres que cumpriram suas tarefas mediúnicas com disciplina e humildade, principais características do bom médium. Mesmo todos sendo médiuns, só alguns desenvolvem as faculdades medianímicas*; ou seja, não basta querer e fazer cursos de mediunidade ou rituais cabalísticos para tornar-se médium. Dessa forma, nos parece questionável chamarem os cursos da área mediúnica de ‘desenvolvimento mediúnico’; apropriado seria chamá-los de ‘educação ou orientação mediúnica’, pois, essencial é que o desenvolvimento mediúnico aflore natural e gradativamente, seguindo o planejamento da espiritualidade. Na prática, a título de informação doutrinária, em se notando essas sensibilidades, em si ou em pessoas próximas, o interessado no dever cristão pode candidatar-se ou indicar o conhecido aos cursos específicos existentes na Casa Espírita, onde recebe a segura orientação para ingressar na tarefa mediúnica, caso obtenha a condição e mantenha aceso o interesse.
Ninguém é obrigado a trabalhar como médium, mesmo possuindo as ditas faculdades mediúnicas. Jesus já nos possibilitava, há 2 mil anos, a escolha da semente a ser plantada, mas também nos alertava, carinhosamente, de que a colheita seria obrigatória e individual.
Como, desde os primórdios, a curiosidade, ferramenta natural do progresso humano, também se apega aos fenômenos medianímicos* (Velho Testamento, Êxodo e Deuteronômio), a maioria continua a querer saber o que acontece do lado de lá, mesmo sem querer ir (de vez) para o além (desencarnar). Porém, só os que (re)nascem com a marca da mediunidade em seus corpos, podem falar com propriedade das dificuldades que passam e dos esforços exigidos para a manutenção do equilíbrio, fator indispensável às tarefas deste campo. Nenhuma faculdade medianímica* é capaz de romper a Lei do Progresso (Livro dos Espíritos, 3ª parte, capítulo 8). Portanto, médium que não estuda é e sempre será presa fácil para a rede da obsessão. Médium que não busca a moralidade, é vaso infectado que mancha a água limpa do Evangelho. E, em se tratando de mediunidade responsável, ninguém se intitula como super-herói, pois, nesse ofício, querer não é poder e servir é sempre muito mais importante que dar.
*medianímico(a): é o termo utilizado quando queremos nos referir a quaisquer ocorrências entre o plano físico e o plano espiritual. (costumava ser usado por Leon Denis, Gabriel Delanne, Herculano Pires, entre outros.)
fonte: O Mensageiro
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